Anastasia : O PSDB deve ter um convivio mais próximo com a sociedade!

Fonte: Leopoldo Mateus – Revista Época

O governador de Minas Gerais diz que o partido tem de rever sua estratégia para se aproximar da sociedade

Eleito governador de Minas Gerais com 63% dos votos, o tucano Antonio Anastasia passou a campanha sendo chamado de “a Dilma de Aécio”. Mesmo consciente de que sua participação nas questões nacionais do partido ainda se dá a reboque de Aécio, ele não se furta a opinar. Pede reavaliação de diretrizes, novas lideranças e maior aproximação com a sociedade civil. Famoso pela pontualidade, ele tem enfrentado dificuldades para cumprir a agenda como gostaria. Anastasia recebeu ÉPOCA na sala de reuniões do hangar do governo no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. A conversa foi depois de uma reunião com o vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), e outros governadores, em Brasília, e antes de um encontro com o presidente mundial da Philips, na Cidade Administrativa do governo mineiro.
ENTREVISTA – ANTONIO ANASTASIA
QUEM É
Formado em Direito, foi secretário adjunto de Planejamento e secretário da Cultura no governo Hélio Garcia (1991-1994), em Minas Gerais. Foi secretário executivo dos ministérios do Trabalho e da Justiça no governo FHC. No primeiro mandato de Aécio como governador de Minas (2003-2007), foi secretário de Planejamento e Gestão. Em 2006, foi eleito vice-governador. Em 2010, assumiu o governo após a renúncia de Aécio
O QUE FEZ
Foi reeleito governador de Minas Gerais com 63% dos votos no primeiro turno
ÉPOCA – O senador eleito Aécio Neves transferiu votos e o senhor ganhou o governo de Minas Gerais, depois de virar a eleição. Por que Aécio não conseguiu fazer o mesmo pelo candidato à Presidência José Serra em Minas?
Antonio Anastasia – A decisão do eleitor é individual, e não temos como compeli-lo. Tenho conversado com vários deputados eleitos. Ontem, conversei com um estadual, do PSB, do Triângulo Mineiro. Na cidade dele, ele fez dobradinha com um deputado federal do DEM. O santinho dele tinha Dilma, Anastasia, Aécio, PSB e DEM. Uma miscelânea. A legislação leva a isso. É o tal fenômeno da Dilmasia. A transferência se dá de forma horizontal, jamais vertical. Lula conseguiu eleger Dilma, mas não conseguiu transferir votos para o candidato do PMDB em Minas.
ÉPOCA – O senhor compartilha a opinião de vários tucanos mineiros de que os problemas na campanha de Serra começaram porque não houve prévias no PSDB para a escolha do candidato a presidente?
Anastasia - Não é porque a campanha não teve êxito que aconteceram erros. A proposta da candidata oficial recebeu mais endosso, a base política dela estava mais estruturada. Acredito que o PSDB deve sempre repensar suas diretrizes e estratégias, ter novas lideranças, aproximar-se da sociedade civil organizada.
ÉPOCA – O senhor fala em mudança de estratégias. De que tipo?
Anastasia - O PSDB deve ter um convívio mais permanente com a sociedade, prefeitos, vereadores e mais aberto a outros partidos. Nossa coligação nacional teve apoio do DEM, do PPS e do PTB, enquanto o outro lado teve muito mais partidos. Tivemos uma derrota, mas o resultado não foi ruim. Ganhamos em oito Estados. Temos uma bancada menor, mas influente. Acho que o PSDB agora tem um futuro a ser construído novamente.
ÉPOCA – Assim como Aécio, o senhor acha que o PSDB precisa de uma refundação?
Anastasia – Essa palavra já foi afastada. Não há necessidade. Precisamos de um constante aperfeiçoamento. Do contrário, qualquer partido se esclerosa. O que aconteceu nessa eleição? Tivemos um resultado ruim no Nordeste e no Rio de Janeiro. Precisamos entender os motivos. Temos de fazer um levantamento com calma, um trabalho coletivo.
ÉPOCA – Como o senhor avalia a recente troca de farpas entre o PSDB paulista e o mineiro? O partido está rachado?
Anastasia - Não houve troca de farpas. No calor eleitoral, houve um assessor do PSDB paulista (Xico Graziano) que fez um comentário infeliz. O presidente do nosso diretório (Nárcio Rodrigues) respondeu, mas já é uma questão superada. O importante é que o PSDB só pode ter pretensão de vencer eleições e ter hegemonia se tiver uma estrutura madura e consolidada internamente, o que me parece que tem.
ÉPOCA – O PSDB de Minas quer mais poder na cúpula nacional do partido?
Anastasia - Nós já temos. Aécio tem um papel de destaque indiscutível. Temos o secretário-geral do partido, a primeira-secretaria da Câmara dos Deputados.
ÉPOCA – Mas tem poder de decisão?
Anastasia – Temos. O próprio Aécio participa do núcleo do PSDB há muito tempo. Devemos fortalecer as instâncias partidárias. Os programas de governo do PSDB devem ser comuns nos Estados. Para que o partido demonstre que, além de uma grande habilidade na gestão pública, na responsabilidade fiscal, na defesa do rigor na administração, temos as políticas sociais, dados concretos em infraestrutura, parcerias com o setor privado.
“O PSDB deve ter um convívio mais permanente com a sociedade e mais aberto a outros partidos”
ÉPOCA – Como será a relação do senhor com o governo federal? Fará oposição moderada, como Aécio, ou contundente, como promete o senador eleito e ex-presidente Itamar Franco?
Anastasia - O papel do congressista é diferente do governador. Eu tenho um compromisso com Minas. Terei com a presidente Dilma um relacionamento maduro e de corresponsabilidade nos assuntos de interesse do Estado. Ela é mineira e terá um carinho especial. Mas claro que, como governador da oposição, temos nossos princípios e valores que vamos apresentar e reforçar à exaustão. Sempre na defesa da profissionalização do serviço público e da meritocracia.
ÉPOCA – Quando o governo ventilou a hipótese de fazer uma nova CPMF, o senhor disse que era a favor. Depois, disse que era contra a criação de outro imposto. O que houve?
Anastasia - No dia da pergunta, respondi sobre o histórico da CPMF. Quando ela foi criada, no governo Fernando Henrique, teve apoio dos governadores. Em sua renovação também. Falei da importância do financiamento da saúde. Fui para o exterior e fiquei fora dez dias. Quando voltei, constatei a polêmica. Na campanha, defendemos a reforma tributária. Os Estados e municípios estão em uma situação muito difícil. A reforma tem de ter como pressuposto que não se aumente a carga tributária geral, pois ninguém aguenta mais. Sobre a CPMF, o que eu disse é que o financiamento da saúde é muito importante. Quando essa ampla reforma vier, teremos de ter tópicos específicos para saúde, segurança e educação.
ÉPOCA – As opiniões do senhor já são ouvidas pela cúpula do PSDB? Ou o senhor é visto como a sombra de Aécio?
Anastasia - Isso ainda é recente. É natural que Minas seja vista como uma totalidade. A razão de nosso sucesso é um grupo político forte, liderado por Aécio. Meu acompanhamento das questões políticas nacionais se faz ao lado dele.
ÉPOCA – Quais são as principais metas de seu governo?
Anastasia – Uma delas é interligar as regiões mineiras, o programa Caminhos de Minas. Já há sinalização positiva do Banco Mundial. Quase 7.000 quilômetros pelo Estado. Seria o maior programa rodoviário da história de Minas. Na educação, a melhoria de nossos indicadores na qualidade do ensino. E, como maior legado, quero deixar a geração de empregos de qualidade.

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