Aécio Neves em artigo : " Estamos regidos pelo improviso"
AÉCIO NEVES
Arquiteturas políticas
Ninguém desconhece as enormes dificuldades pelas quais passa
o país, neste momento em que se acentua uma arquitetura de relações políticas
baseada na subordinação dos partidos e na delegação a eles, como contrapartida,
de extensas áreas da administração federal, que funcionam como autênticos
feudos, na lógica do chamado "presidencialismo de coalizão".
O que se assiste não é um fenômeno novo. Se não é correto
limitá-lo aos governos do PT, é forçoso reconhecer que a luta fratricida por
cargos e espaços de poder se adensou e se institucionalizou, a um custo cada
vez maior para o país.
Por mais que os primeiros movimentos da presidente Dilma Rousseff
busquem sinalizar certa indisposição quanto à manutenção desse modelo, e esta
postura mereça ser saudada, também é preciso lembrar que o atual governo
reproduz e perpetua os mesmos códigos de relações políticas do anterior, do
qual a presidente foi figura de destaque.
Não podemos cair na armadilha de acreditar que exista um
esforço novo para fazer valer uma autêntica faxina institucional, enquanto o
que vermos se restringir apenas a respostas pontuais à indignação da população
diante de denúncias da imprensa.
Instrumentos simples, implementados por meio das auditorias
permanentes dos órgãos federais, poderiam significar uma providência muito mais
eficaz do que a simples troca de cadeiras.
Em Minas, por exemplo, a criação e o
efetivo funcionamento de uma rede de auditorias preventivas representaram
importantes conquistas do modelo de gestão lá implantado.
Nesta semana, quando o Congresso retoma seus trabalhos, o
governo terá oportunidade de reposicionar-se diante da verdadeira enxurrada de
questionamentos que sobre ele pesa. Um bom recomeço seria o apoio da presidente
ao entendimento que tem sido buscado, no Senado, em torno de um novo rito para
tramitação das medidas provisórias, que restitui ao Congresso suas
prerrogativas constitucionais.
Há também grande expectativa em relação ao posicionamento do
governo sobre as mudanças aprovadas na LDO, que abrem a caixa preta da emissão
de títulos do Tesouro e limitam os gastos federais.
O encaminhamento que a presidente dará a essas matérias
demonstrará, na prática, qual a verdadeira disposição do governo.
Se sancionar
as mudanças aprovadas no Congresso permitirá um avanço importante nas relações
entre os Poderes. Se vetá-las, estará condenando todos nós a um triste e
envelhecido cenário, agravado pela ausência de uma agenda para o país.
Trata-se, portanto, de um momento decisivo. Ou caminhamos para recuperar o
tempo perdido ou encerraremos 2011 como viemos até aqui: imobilizados por
sucessivas crises e regidos pelo improviso.
--------------------------------------------------------------------------------
AÉCIO NEVES / Folha de São Paulo
Comentários
Postar um comentário