Cura encerra 5ª edição deixando legado de mais quatro murais para BH
Circuito Urbano de Arte (Cura) soma 18 monumentais painéis, sendo 14 deles vistos da rua Sapucaí, no centro de BH; quatro estão no bairro Lagoinha
Por ALEX BESSAS
04/10/20 - 20h00
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CURA 2020: Obra de Robinho Santana no Edifício Itamaraty - Rua dos Tupis, 38.
Foto: Flávio Tavares
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CURA 2020: Obra de Diego Mouro no Edifício Almeida - Rua São Paulo, 249
Foto: Flávio Tavares

CURA 2020: Obra de Daiara Tukano no Edifício Levy - Av. Amazonas, 718
Foto: Flávio Tavares
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CURA 2020: Obra de Lídia Viber no Edifício Cartacho - Rua dos Caetés, 530
Foto: Flávio Tavares‹›
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Quando toda história começou, em 2017, Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni, nomes por trás da concepção do Circuito Urbano de Arte (CURA), contabilizaram 26 ainda cinzentas paredes laterais de prédios da região central de Belo Horizonte que, vistas da rua Sapucaí, poderiam ganhar cores e passar a compor o primeiro mirante dedicado à street art do mundo. Três anos depois, chegando à conclusão de sua quinta edição neste domingo (4), o festival entrega para a cidade mais quatro monumentais painéis em fachadas cegas de edifícios da região.
Hoje, no total, 14 murais podem ser vistos do ambicionado mirante localizado no bairro Floresta – portanto, o Cura ultrapassou, neste ano, a metade do número de obras que, conjuntamente, vão colorir o horizonte da capital mineira a partir de uma mesma perspectiva.
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Nesta etapa, aliás, um feito inédito do projeto: além das empenas, BH foi contemplada por duas instalações – a obra “Entidades”, que ocupa os arcos do Viaduto Santa Tereza até dia 22, e as imensas bandeiras postas nas janelas do prédio que, no passado, sediou a Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “É algo que trouxe vida para a cidade”, comemora Janaína Macruz. Por conta da pandemia, que inviabilizou a realização do tradicional festival no mirante, que sempre acontecia na última semana do evento, houve também a experimentação de uma programação online. “Foram mesas incríveis, com artistas, curadores e pessoas que trabalham com o mercado da arte trazendo discussões essenciais para o atual momento”, sinaliza a co-fundadora do CURA.
Tudo funcionou tão bem que Janaína se diz até mesmo surpreendida. “Estamos finalizando a edição 2020 muito felizes. Algo que a gente imaginou que aconteceria, mas que veio em uma proporção muito maior, foi a sensação de estarmos interagindo não só com BH, mas com o mundo todo”, observa, salientando que a necessidade de isolamento social em boa parte do planeta aumentou o fluxo de trocas virtuais, de forma que o festival acabou repercutindo em diversos países e, no Brasil, de forma mais ampla.
Maior obra criada no festival é homenagem à força da “mãe preta”
Vale registrar: a maior obra de arte pública já criada no festival ganhou formas neste ano. Com uma área total de 1.892m², a fachada cega do edifício Itamaraty tornou-se um monumental suporte para o trabalho do artista Robinho Santana, de Diadema, em São Paulo. O segundo maior mural deixado de legado pelo CURA foi criado pela artista Milu Correch e ocupa 1.792m² na empena da Garagem São José. Prédios vizinhos, Itamaraty e São José formam, agora, uma esquina icônica para a arte urbana com quase 4.000 m².
“Na preocupação em fazer algo que seja condizente com o tamanho e a importância de pintar a maior empena do festival, eu não achei nada em minhas pesquisas e vivências que fosse mais grandioso do que a força de uma mãe preta!”, garante Santana.
“Este trabalho é um ode a um ‘Levante Negro’, é um desejo de que outras pessoas oriundas de lugares periféricos como eu, também pintem as maiores empenas em festivais pelo mundo. Este trabalho, carrega diversos e diversos significados, mas eu, particularmente quero comentar sobre força, e tudo isso personificado na imagem de uma mãe segurando duas crianças, uma em cada braço. E eu, não conheço nada mais forte do que isso…”, reforça o artista, que, em Belo Horizonte, entregou o maior mural por ele criado.
“Essa é a segunda empena que faço em minha carreira e a maior até o momento, é praticamente o dobro da primeira, sendo que a que fiz em São Paulo”, revela. Entre elogios à organização do festival, Robinho destaca que o momento não tem sido fácil para os trabalhadores da cultura e das artes. Neste contexto, “poder sair da minha cidade e participar do maior festival de arte urbana do país, que dá visibilidade a muitas pessoas que são silenciadas e que entende a importância da diversidade, é sem dúvida nenhuma um enorme privilégio pra mim”, pontua.
Pandemia exigiu adaptação
A preocupação em oxigenar a cadeia produtiva de setores da cultura, aliás, foi uma das motivações para que o festival ocorresse em 2020.
“O Cura é um dos poucos festivais que podem ser feitos no contexto de enfrentamento à pandemia. Com exceção da parte parte dos encontros no mirante, conseguimos manter todas as ações e expandimos ainda mais o braço de arte pública com as instalações”, comemora Janaína Macruz, lembrando como, de início, as organizadoras do evento ficaram apreensivas e chegaram a pensar em adiar a quinta edição para 2021. Elas temiam que a pandemia impedisse que o público tivesse a experiência que esperavam possibilitar. “A gente ficou em dúvida no início, mas decidimos fazer. Como já vínhamos desenhando como seria o CURA 2020 desde o ano passado, precisamos rever algumas ações e nos adaptar ao novo cenário”, reconhece.
Para a realização, precisaram encarar limitações. Houve a necessidade, por exemplo, de abrir mão de uma empena – inicialmente, elas pretendiam que cinco painéis fossem pintados neste ano. Também foi necessário que deixassem de convidar artistas internacionais – algo que sempre foi caro ao projeto que busca estabelecer diálogo entre Belo Horizonte e outras cidades por meio desse intercâmbio artístico.
Entretanto, nada impediu o sucesso da empreitada. “Foi uma etapa muito especial, que marca nosso amadurecimento”, assinala. Afetuosamente, Janaína ainda sublinha que a etapa 2020 do circuito tem um quê de especial para as idealizadoras do projeto: “É a primeira vez que somos três mães trabalhando no Cura. Quando veio a primeira edição, eu estava grávida de seis meses. Na terceira, a Ju (Flores) tinha ganhado bebê há pouco tempo. E, agora, a Priscila (Amoni) é que estava com seu neném”, lembra, reforçando que a vivência da maternidade trouxe para elas novas perspectivas. “É um olhar mais carinhoso e compreensivo, é algo que muda a dinâmica dos trabalhos, que passam a ser pautados pelo tempo da maternagem. De alguma maneira, acho que isso extravasa no que o festival entrega”, diz.
CURA deve sair do centro de BH em 2021
Além dos 14 murais que podem ser vistos a partir da rua Sapucaí, outros quatro estampam edificações no bairro Lagoinha, que recebeu a etapa de 2019 do circuito. E, em 2021, o Cura mais uma vez deve deixar a região central e ganhar outros espaços, se espalhando por Belo Horizonte. “Ainda tem muita coisa envolvida nessa mudança de território, então ainda não dá para adiantar mais detalhes”, explicou Janaína à reportagem. “De qualquer maneira, ainda faltam 12 fachadas para completar o mirante, então a gente sai, mas sempre volta depois”, pondera.
Quase certo é que, entre os artistas convidados, deverão ser cada vez mais frequentes nomes ligados a povos indígenas. “Nós sempre admiramos o trabalho de vários desses artistas e já tínhamos esse desejo de trazê-los. Precisamos desses quatro anos para chegar em uma maturidade enquanto festival, de forma que a gente se sentia segura para oferecer suporte para a realização dessas obras. Agora, não tem mais como andar para trás”, garante.
Artistas e obras da edição 2020
Instalações. No Viaduto Santa Tereza permanece em exposição até o dia 22 a escultura inflável concebida pelo artista Jaider Esbell (Normandia/RR). Já no prédio número 842, na avenida do Contorno, que sediava a antiga Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estão instaladas bandeiras produzidas pelos artistas Denilson Baniwa (Bercelos/AM), Randolpho Lamonier (Contagem/MG), Célia Xakriabá (São João das Missões/MG), Ventura Profana (Salvador/BA) e Cólera e Alegria (Brasil).
Murais. Os artistas responsáveis por dar formas aos quatro murais que passam a integrar o mosaico de arte urbana promovido pelo Cura são: Diego Mouro (São Bernardo do Campo/SP), vencedor da seletiva online, Lídia Viber (Belo Horizonte/MG), Robinho Santana (Diadema/SP) e Daiara Tukano (São Paulo/SP). Os artistas realizaram intervenções nos edifícios Almeida, Cartacho, Itamaraty e Levy respectivamente.
Mirante. Todas as obras criadas na quinta edição do circuito, incluindo instalações e murais, podem ser vistas a partir do mirante da rua Sapucaí, no bairro Floresta.
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